Essa é uma das histórias usualmente marginalizadas do noticiário esportivo, mas que vale a pena registrar:
LEMBRA DELE? Popoca, quase ídolo no Fla
Ex-jogador recorda da prata nas Olimpíadas de Los Angeles e se diz injustiçado no futebol
Habilidoso como Tita. Rebelde à la Afonsinho. Gilmar Popoca despontou como promessa de craque do Flamengo no início da década de 80. Não só foi campeão brasileiro em 83, como também, no mesmo ano, comandou as campanhas vitoriosas da seleção brasileira no Sul-Americano, no Pré-Olímpico e no Mundial Sub-20. No auge da carreira, aos 20 anos, vestiu a camisa 10 do Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. Dividiu flashes com Dunga, Bebeto, Jorginho e Aldair. Foi considerado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) o melhor jogador da competição, além de ter sido o artilheiro do torneio, com 5 gols. - A minha geração ficou com a medalha de prata nas Olimpíadas de 84. Nós perdemos na final para a França, por 2 a 0. Foi duro levar dois gols no fim do jogo. Mas valeu pela experiência única de representar o país na maior competição do planeta depois da Copa do Mundo. Em relação ao Flamengo, o clube entrou na minha vida por acaso. Aos 14 anos, participei de um treino de dois toques com o elenco rubro-negro, no Vivaldão, em Manaus. Não tinha nem chuteira, embora treinasse no Rio Negro. Mas o técnico Cláudio Coutinho gostou de mim e me convidou para jogar no time dele - revela Gilmar Popoca, campeão estadual em todas categorias de base.
Com exceção da Taça São Paulo de Futebol Júnior, na qual ficou em 4º lugar, o meia-atacante ganhou todos os títulos possíveis no Flamengo e na seleção brasileira antes de se profissionalizar.
No entanto, concomitantemente à ascensão meteórica na carreira, vieram as confusões. Da mesma forma que partia para cima dos adversários, Gilmar Popoca passou a enfrentar os dirigentes rubro-negros. Não contava com o escudo, hoje indispensável, dos empresários. Em cada negociação de contrato, era aquele desgaste. Só recebia conselheiros do pai, tão passional e explosivo quanto o filho. Cada briga com os donos de seu passe era seguida de punição. Foi afastado e multado diversas vezes. Teve até a perna engessada sem que houvesse necessidade.
- Fui marginalizado no Flamengo. Em 83, os dirigentes rubro-negros quiseram me vender para o Sporting Braga (Portugal), mas não aceitei. Foi o começo de uma relação de amor e ódio. Passados quatro anos, tinha propostas de Internacional, Corinthians e Palmeiras, mas acabei sendo negociado com a Ponte Preta. Em 1988, simplesmente abandonei o Flamengo. Comecei a treinar por minha conta no Botafogo. Nós éramos escravos. E eu não aceitava trabalhar naquelas condições. Nunca cheguei atrasado. Muito menos faltei a um treino no Flamengo. Gostava de treinar fundamentos. Nunca pedi para ser poupado. Só que me revoltei contra o sistema e . paguei caro por isso - pondera o jogador que na década de 80 foi apontado como o sucessor de ninguém menos que Zico.
Supervisor, masters do Fla e praieiro
Atualmente, Gilmar Popoca é supervisor do projeto “Show de Bola”, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Este ano, foi auxiliar do técnico Ademir Fonseca, no América. Mas, com a queda do treinador, também pediu o boné. O amazonense integra o time masters do Flamengo, que excursiona Brasil afora disputando amistosos. Formou-se em Educação Física no ano passado e pretende ingressar na carreira de treinador de futebol. Nas horas vagas, é figurinha fácil na Posto Três da Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. - O time de veteranos do Fla é a minha terapia de vida. Pelo menos duas vezes por mês, divirto-me com aqueles craques do passado (Andrade, Adílio, Júnior, Júlio César Uri Geller, entre outros). O que me entristece é que o Flamengo era para ser um Milan, um Real Madrid em termos de infra-estrutura. E eu poderia ter feito muito mais pelo clube. Não tenho raiva da instituição, mas dos dirigentes que só pensavam neles - admite Gilmar, apelidado de Popoca pela irmã mais velha.
Extraído de http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/0,,MUL286776-4274,00.html. Acesso em 27/02/08, 12:00.