domingo, 14 de dezembro de 2008

Por um punhado de dólares a mais

O filme é conhecido: o jovem da periferia que se torna astro do esporte. A bilheteria é garantida, principalmente, por que o protagonista é uma megaestrela que - como os artistas hollywoodianos - embolsam, além do cachê, o direito de venda de bugigangas associadas ao lançamento comercial.
É uma síntese da ida de Ronaldo para o time com a segunda maior torcida no Brasil. O dinheiro é uma ninharia para um (ex-)atleta que ganha - jogando ou não futebol - muito mais que a maioria dos meros mortais sonham em acumular ao longo de uma vida de trabalho. Tempo para refletir: será que a empresa internacional que o patrocina, e também fornece o material esportivo para o seu novo time, agiu em represália ao Flamengo, que já assinou um contrato com uma nova fornecedora? Como a época é de se acreditar em Papai Noel... deixemos a ingenuidade tomar conta dos "no$$o$ coraçõe$ e mente$" ...
Dinheiro a parte, cabe uma outra reflexão: onde se gastar tanto dinheiro? Quantos séculos serão necessários, quantas gerações se passarão até os zilhões da família Nazario serem exauridos? Este é o ponto a se discutir!
O decantado amor ao Flamengo sucumbiu ao aceno financeiro. Mas quem foi seduzido? O pobre menino rico que sai da história para entrar na sombra do passado da transitoriedade de muitos outros fenômenos e modas passageiras...
Em contraposição, há 27 anos uma geração registrava nos anais do tempo um feito eternizado não somente pela agremiação esportiva com maior quantidade de torcedores em todo o mundo, como também pela FIFA, como sendo a nona equipe mais importante no ranking do esporte Bretão. Sim, Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Lico e Nunes, Carpegiani, entre outros da magistral equipe são eternos. Ronaldo, nem mais fenomenal é.
As gerações mais novas desconhecem alguns capítulos da bela história de ouro do Fla: a constante negatória do Galinho em se transferir para o exterior - mesmo com ganhos superiores aos proporcionados pelo Fla - por amor à camisa (!!!), ou ainda o menosprezo e desdém dos jogadores do Liverpool pela religiosidade demonstrada pelos Brasileiros no túnel de entrada do campo, minutos antes da partida.
Mas, Ronaldo sabe e ignora. Infelizmente, como ícone de uma outra geração, demonstra o quanto dinheiro em abundância domina e entorpece uma pessoa, a ponto de se tornar mais importante do que o amor. Aliás, diga-se de passagem, o amor é um sentimento que ele pretensamente acha conhecer, considerando outros episódios da vida pessoal. Da mesma forma que os jogadores do Liverpool em 1981, o Fenômeno revela que o desdém é mais verdadeiro para ele do que se respeitar e demonstrar gratidão a pessoas, instituições ou entidades.
Tudo à nossa volta, como nós mesmos, será transformado em pó algum dia. O legado que deixamos é a soma das experiências que proporcionamos enquanto vivos. Esta não pode ser aspergida e sacudida como o pó que se acumula pelos cantos, que nenhuma importância tem.
Por mais singela que seja a realização, existirá a respeitosa deferência das gerações que se seguem, como bem o fazem os paquidermes. Porém, aos vermes cabem se consumir uns aos outros, sem a chance de marcarem o seu tempo nesta ou em outras vidas.