sábado, 7 de julho de 2007

A quem serve a crônica esportiva

Apaixonado pelo Clube de maior torcida no Brasil, segundo dados do IBOPE, indigna-me perceber o espaço que o Flamengo tem hoje na imprensa nacional.

Reconhecidamente, o time não é de longe o timaço dos anos 80, porém nada, enfatizo, nada dista de outros equipes em termos de elenco, a exemplo do decantado Botafogo, por enquanto, líder do campeonato Brasileiro. Paixões a parte, jogador por jogador, elenco por elenco, estrutura por estrutura, dívida por dívida ... o Flamengo é mais!

Não vivendo de superlativos, nem de passados, deve-se buscar não somente em uma questão circunstancial, mas em muitas a explanação para o ofuscamento do Flamengo na grande imprensa. A pretensa posição de comentários "neutros" possibilita o questionamento de como se produzem as pautas dos programas jornalísticos. Será que está em voga apenas a cobertura do que se está em evidência?

Bem, na condição de público, gostaria imensamente de poder ler, ouvir e assistir as ações da diretoria do Clube pelo qual torço, muito mais do que ter que acompanhar - em rede nacional, de forma avassaladora - cada episódio da vida de outro alvinegro, o Corinthians, que possui minutos, ou melhor, horas "cativas" nos principais veículos de comunicação do país. Será que é fortuito ou existe uma razão por trás disto? E nós torcedores da maior agremiação esportiva do país, como ficamos?

Interesses comerciais pesam na decisão de se produzir debates, mesas-redondas e programas esportivos cada vez mais indiferenciados no que se refere a forma e conteúdo. No que se refere a independência, sinto muita falta do alvinegro João Saldanha com sua clara e bem definida posição. Na condição de singular cronista - sem incorrer no equívoco de atribuir a este destaque maior do que qualquer outro expoente da mídia - percebo que a crônica esportiva nacional ainda permanece ácida e corrosiva, mas de forma equivocada.

Quais os verdadeiros interesses que movem as coberturas jornalísticas? O evento esportivo? O fato jornalístico? Quem direciona o "olhar" da câmera e o "ouvido" do microfone? Quem determina, quem edita o que vai ou que não vai para o ar? A falácia da democracia - modelo esgotado na Grécia antiga para menos de um milhão de pessoas do sexo masculino e livres, ou seja, não-escravos - certamente não responde a essas e muitas outras questões.

Relegar aos torcedores, integrantes de uma grande massa, o tratamento de minoria é repetir os erros de um passado nada digno, quando se buscava camuflar as verdades com uma só verdade. A sociedade está dentro de um gueto de informação, um casulo com donos, intermediários, fornecedores e consumidores. Quem tiver dinheiro, pague para assistir, para navegar, para reclamar. Do contrário, acredite na mesma proporção do que lhe for entregue.