sábado, 14 de julho de 2007

O Outro Lado do Pan

Espaço aberto para trechos de uma matéria publicada na revista Caros Amigos de junho de 2007.

ENTREVISTA: JOSÉ TRAJANO E JUCA KFOURI
Entrevistadores: Mylton Severiano, Marcos Zibordi, João de Barros, Thiago Domenici, Sérgio de Souza.

"A figurinista da equipe olímpica brasileira, Mônica Conceição, é cunhada de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (...).

"Marcos Vinícius Freire, representante do Brasil na AON Seguros (empresa que faz o seguro das delegações do próprio COB) é sócio de Alexandre Accioly ( aquele que é dono de tudo ). E que a empresa que organiza a festa de abertura e de encerramento (contratada sem licitação) é ligada a Accioly (...).

"Não houve licitação para contratar a empresa responsável pela segurança do Pan. Para isso foi usado o seguinte argumento: 'É assunto sigiloso, não podemos expor'. Foi contratada uma empresa que agora anuncia que não terá tempo para fazer tudo o que deveria ser feito (...).

"A agência de turismo contratada para prestar serviços ao COB é de Cristina Lowndes, grande amiga de Nuzman, em uma licitação até hoje contestada (...).

"A empresa contratada para idealizar (apenas idealizar, mais nada) as medalhas do Pan ganhou o direito de fazer isso numa mera carta-convite, auferindo 720 mil reais em um contrato de três anos (...).

"O Pan não é do COB, e sim da CO-Rio, uma empresa PARTICULAR criada para organizar o evento. Ela pega a prefeitura, o Min. do Esporte, o governo do Estado e simplesmente organiza o evento. Sabe quem abriu essa empresa ? Carlos Arthur Nuzman. Abriu só para isso. Ele é o presidente do COB e da CO-Rio (...).

"O projeto inicial para o PAN estava orçado em 720 milhões de reais e hoje chega a quase 3 bilhões. Ganharam a candidatura com um plano mentiroso, subdimensionado em termos de custo dizendo que a iniciativa privada iria bancar. O governo (com o nosso dinheiro) disse : 'Tudo bem, quer fazer o Pan, nós apoiamos, mas só vamos colocar um certo x de dinheiro'. Feito foi (...).

"Dois anos depois bateram à porta do governo e falaram : 'Ó, a iniciativa privada não veio, não estamos conseguindo captar e se vocês não ajudarem vai ser uma vergonha, vai pegar mal para a imagem do Brasil'. O que o governo fez ? Injetou nosso dinheiro para obras superfaturadas do PAN. Aonde está indo neste exato momento parar grande parte do nosso dinheiro público ? Nas mãos desse pequeno grupo 'gerenciador' do evento (...).

"Uma das construtoras que participaram das obras da vila pan-americana não tinha capital suficiente para participar da licitação. O que fez Nuzman ? Convenceu o ministro Agnelo Queiroz a convencer Lula a criar uma medida provisória antecipando o aluguel da vila. Exatamente no valor do capital necessário para registrar uma empresa na licitação. Essa empresa recebeu esse dinheiro, registrou o capital e ganhou a licitação (...).

"Após o Pan não se sabe o que será feito com cada instalação, porém muitas servirão para atender a velhas e ilegais reivindicações da iniciativa privada para mexer em regiões do Rio que são tombadas ou são áreas de proteção ambiental. Um exemplo : 'queremos fazer um shopping na Marina da Glória, então faremos lá umas obras para as provas de iatismo e já deixamos tudo pronto para depois a iniciativa privada tomar conta e construir o seu shopping'. É tudo jogada (...).

"O Pan vai bancar passagens para cerca de mil cartolas, tudo custeado pelo governo federal (nosso dinheiro) num total de 22 milhões de reais...e que este custeamento foi fundamental para que o Rio de Janeiro vencesse a disputa com San Antonio (EUA) para sediar estes jogos...imagina se os americanos iriam pagar passagem para cartolas...Eu, você, o Seu Manoel da esquina é quem iremos pagar (...).

"Uma multinacional francesa especializada em catering (alimentação para eventos) recebeu uma proposta indecorosa de um membro do COB : 'Olha, escolhemos a sua empresa para fornecer a alimentação, 20% por fora, topas ?' Eis a resposta do presidente da empresa francesa : 'Recebi essa proposta. É um bom negócio, mas acho que nós não devemos fazer pois não quero ter cumplicidade'."

Revista Caros Amigos, junho de 2007, Ano XI, Número 123, Junho 2007.