segunda-feira, 23 de julho de 2007

Balcão de Negócios

Vive-se no futebol a era dos "espetáculos". O drible, sem objetividade, os passes de efeito - que pouco resultado geram, e muito dificultam o domínio da bola pelo companheiro -, as coreografias em frente da câmera, a vibração da torcida, tudo em alta velocidade e no ritmo de "baladas".

Esse verbete, nos antigos dicionários léxicos, possuía outra conotação que em nada se assemelha à atual, muito próxima a de "festa, agitação" ou, no péssimo futebolês, "barca"!

O compromisso dos jogadores resume-se a assinar um contrato com times de projeção na mídia nacional para conseguir uma transferência para a Europa. Os menos "afortunados", seguem para os mercados marginais: Russia, Coréia, México, Japão, dentre outros.

O fato é que nenhum clube Brasileiro pode ignorar o impacto da venda de jogadores na receita anual. Atolados em dívidas e comprometidos por gestões com interesses escusos, com dificuldade têm conseguido manter fiel o torcedor. Mas, a que preço?

As agremiações, por mais paradoxal que pareça, têm se profissionalizado. Raras são as que não estão cercadas de empresários - neo senhores de escravos -, que escalam time, montam DVD com gols dos agenciados e articulam parcerias, inclusive com a mídia. Dignos de aplauso são os profissionais que conseguem manter o espírito amador na conduta esportiva e reconhecer que inexiste neutralidade sendo, pois, essencial dar conhecimento ao público do que ocorre nos bastidores.

Vale frisar que o "público", por sua vez, também já não é o mesmo de outrora. Canções de guerra ecoam em estádios vázios em contraste com os muitos inquéritos policiais para investigar as ligações de torcidas organizadas com o crime. Igualmente não menos infames são as aproximações com a diretoria dos clubes.

Muitos dirigentes alavancam suas carreiras e seu patrimônio pessoal com a força das torcidas que são incitadas a vaiar ou a incentivar os atletas que convêm ser mantidos no elenco ou não (peço licença ao saudoso João Saldanha e aos mestres da Língua Portuguesa para retificar o grifo pelo verbete "plantel", mais apropriado para descrever os indivíduos do meio futebolístico contemporaneamente).

O ciclo vicioso consolida-se ao se observar que grupos internacionais têm nos políticos de alto escalão a pedra fundamental para desenvolver parcerias... Uma perfeita sintonia do público com o privado!

Será que há espaço para o amadorismo no futebol?

sábado, 14 de julho de 2007

"Maracanazo"

A expressão foi cunhada para referendar o efeito da derrota da seleção de futebol para o esquete Uruguaio na Copa de 1950. Passados 57 anos, todavia, é merecedora de outra conotação.

Como vimos no post anterior - confirmado em outros termos pela BBC (http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/07/070714_pantimes_is.shtml) - a nobreza do espírito Olímpico passa ao largo da organização do Pan. Todavia, digno de menção é o posicionamento do público com relação aos políticos. Em raras oportunidades, a verdadeira voz do povo se fez ouvir sem interlocutores, silenciando momentaneamente os arautos do ufanismo nacionalista.

Vaias igualmente, pois, à comitiva dos EUA, o pretenso oásis de liberdade, democracia e igualdade. Palmas para os adversários Argentinos, cuja rivalidade com o Brasil circunscreve-se à arena esportiva, e que muito nos tem a ensinar no campo da cidadania, assim como os Chilenos.

O épico confronto entre os maus representantes do povo e a classe média - esgotada com o financiamento de programas assistencialista e exasperada com a deterioração da vida em sociedade - foi, indiscutivelmente, o cume do Evento.

Pirotecnias e pesquisas de opinião sobre popularidade dos governantes a parte, chega de obras superfaturadas e faraônicas.

As urnas são um simulacro da democracia? Pelo menos, para a classe média presente no Maracanã, sim.

O Outro Lado do Pan

Espaço aberto para trechos de uma matéria publicada na revista Caros Amigos de junho de 2007.

ENTREVISTA: JOSÉ TRAJANO E JUCA KFOURI
Entrevistadores: Mylton Severiano, Marcos Zibordi, João de Barros, Thiago Domenici, Sérgio de Souza.

"A figurinista da equipe olímpica brasileira, Mônica Conceição, é cunhada de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (...).

"Marcos Vinícius Freire, representante do Brasil na AON Seguros (empresa que faz o seguro das delegações do próprio COB) é sócio de Alexandre Accioly ( aquele que é dono de tudo ). E que a empresa que organiza a festa de abertura e de encerramento (contratada sem licitação) é ligada a Accioly (...).

"Não houve licitação para contratar a empresa responsável pela segurança do Pan. Para isso foi usado o seguinte argumento: 'É assunto sigiloso, não podemos expor'. Foi contratada uma empresa que agora anuncia que não terá tempo para fazer tudo o que deveria ser feito (...).

"A agência de turismo contratada para prestar serviços ao COB é de Cristina Lowndes, grande amiga de Nuzman, em uma licitação até hoje contestada (...).

"A empresa contratada para idealizar (apenas idealizar, mais nada) as medalhas do Pan ganhou o direito de fazer isso numa mera carta-convite, auferindo 720 mil reais em um contrato de três anos (...).

"O Pan não é do COB, e sim da CO-Rio, uma empresa PARTICULAR criada para organizar o evento. Ela pega a prefeitura, o Min. do Esporte, o governo do Estado e simplesmente organiza o evento. Sabe quem abriu essa empresa ? Carlos Arthur Nuzman. Abriu só para isso. Ele é o presidente do COB e da CO-Rio (...).

"O projeto inicial para o PAN estava orçado em 720 milhões de reais e hoje chega a quase 3 bilhões. Ganharam a candidatura com um plano mentiroso, subdimensionado em termos de custo dizendo que a iniciativa privada iria bancar. O governo (com o nosso dinheiro) disse : 'Tudo bem, quer fazer o Pan, nós apoiamos, mas só vamos colocar um certo x de dinheiro'. Feito foi (...).

"Dois anos depois bateram à porta do governo e falaram : 'Ó, a iniciativa privada não veio, não estamos conseguindo captar e se vocês não ajudarem vai ser uma vergonha, vai pegar mal para a imagem do Brasil'. O que o governo fez ? Injetou nosso dinheiro para obras superfaturadas do PAN. Aonde está indo neste exato momento parar grande parte do nosso dinheiro público ? Nas mãos desse pequeno grupo 'gerenciador' do evento (...).

"Uma das construtoras que participaram das obras da vila pan-americana não tinha capital suficiente para participar da licitação. O que fez Nuzman ? Convenceu o ministro Agnelo Queiroz a convencer Lula a criar uma medida provisória antecipando o aluguel da vila. Exatamente no valor do capital necessário para registrar uma empresa na licitação. Essa empresa recebeu esse dinheiro, registrou o capital e ganhou a licitação (...).

"Após o Pan não se sabe o que será feito com cada instalação, porém muitas servirão para atender a velhas e ilegais reivindicações da iniciativa privada para mexer em regiões do Rio que são tombadas ou são áreas de proteção ambiental. Um exemplo : 'queremos fazer um shopping na Marina da Glória, então faremos lá umas obras para as provas de iatismo e já deixamos tudo pronto para depois a iniciativa privada tomar conta e construir o seu shopping'. É tudo jogada (...).

"O Pan vai bancar passagens para cerca de mil cartolas, tudo custeado pelo governo federal (nosso dinheiro) num total de 22 milhões de reais...e que este custeamento foi fundamental para que o Rio de Janeiro vencesse a disputa com San Antonio (EUA) para sediar estes jogos...imagina se os americanos iriam pagar passagem para cartolas...Eu, você, o Seu Manoel da esquina é quem iremos pagar (...).

"Uma multinacional francesa especializada em catering (alimentação para eventos) recebeu uma proposta indecorosa de um membro do COB : 'Olha, escolhemos a sua empresa para fornecer a alimentação, 20% por fora, topas ?' Eis a resposta do presidente da empresa francesa : 'Recebi essa proposta. É um bom negócio, mas acho que nós não devemos fazer pois não quero ter cumplicidade'."

Revista Caros Amigos, junho de 2007, Ano XI, Número 123, Junho 2007.

sábado, 7 de julho de 2007

A quem serve a crônica esportiva

Apaixonado pelo Clube de maior torcida no Brasil, segundo dados do IBOPE, indigna-me perceber o espaço que o Flamengo tem hoje na imprensa nacional.

Reconhecidamente, o time não é de longe o timaço dos anos 80, porém nada, enfatizo, nada dista de outros equipes em termos de elenco, a exemplo do decantado Botafogo, por enquanto, líder do campeonato Brasileiro. Paixões a parte, jogador por jogador, elenco por elenco, estrutura por estrutura, dívida por dívida ... o Flamengo é mais!

Não vivendo de superlativos, nem de passados, deve-se buscar não somente em uma questão circunstancial, mas em muitas a explanação para o ofuscamento do Flamengo na grande imprensa. A pretensa posição de comentários "neutros" possibilita o questionamento de como se produzem as pautas dos programas jornalísticos. Será que está em voga apenas a cobertura do que se está em evidência?

Bem, na condição de público, gostaria imensamente de poder ler, ouvir e assistir as ações da diretoria do Clube pelo qual torço, muito mais do que ter que acompanhar - em rede nacional, de forma avassaladora - cada episódio da vida de outro alvinegro, o Corinthians, que possui minutos, ou melhor, horas "cativas" nos principais veículos de comunicação do país. Será que é fortuito ou existe uma razão por trás disto? E nós torcedores da maior agremiação esportiva do país, como ficamos?

Interesses comerciais pesam na decisão de se produzir debates, mesas-redondas e programas esportivos cada vez mais indiferenciados no que se refere a forma e conteúdo. No que se refere a independência, sinto muita falta do alvinegro João Saldanha com sua clara e bem definida posição. Na condição de singular cronista - sem incorrer no equívoco de atribuir a este destaque maior do que qualquer outro expoente da mídia - percebo que a crônica esportiva nacional ainda permanece ácida e corrosiva, mas de forma equivocada.

Quais os verdadeiros interesses que movem as coberturas jornalísticas? O evento esportivo? O fato jornalístico? Quem direciona o "olhar" da câmera e o "ouvido" do microfone? Quem determina, quem edita o que vai ou que não vai para o ar? A falácia da democracia - modelo esgotado na Grécia antiga para menos de um milhão de pessoas do sexo masculino e livres, ou seja, não-escravos - certamente não responde a essas e muitas outras questões.

Relegar aos torcedores, integrantes de uma grande massa, o tratamento de minoria é repetir os erros de um passado nada digno, quando se buscava camuflar as verdades com uma só verdade. A sociedade está dentro de um gueto de informação, um casulo com donos, intermediários, fornecedores e consumidores. Quem tiver dinheiro, pague para assistir, para navegar, para reclamar. Do contrário, acredite na mesma proporção do que lhe for entregue.